A hipermodernidade e os valores da alta performance trouxeram consigo uma exacerbação de contradições em que cada indivíduo é convidado a ser ele próprio ao mesmo tempo que internaliza o valor da responsabilidade e procura da excelência, como o se o sucesso dependesse exclusivamente de si, das suas qualidades, da sua vontade e do seu comportamento. Numa sociedade de luta de lugares, cada um é detentor de um “capital” em que investe para que seja reconhecido socialmente. Àquele que vive o excesso na busca da alta performance opõe-se um outro que se encontra em falta, caraterizado por uma identidade pessoal negativa, o sem-emprego; o sem-teto; o sem-papéis; o sem-amor, o sem-existência social. O desemprego já não é considerado um problema económico, mas um problema psicológico e de adaptação de certas pessoas situadas nas franjas da sociedade. A solução tem passado por cada desempregado fazer um trabalho sobre si-mesmo para se tornar empregável. Cada desempregado é convidado a interrogar-se para procurar em si-mesmo as causas e as dificuldades no acesso ao emprego. Há em todo um processo de culpabilização cujos os efeitos resulta nas perdas de confiança e de estima de si, em incongruências. A procura em si e nos problemas psicológicos para voltar ao(s) mundo(s) do trabalho, como se o problema do desemprego fosse um problema exclusivamente do desempregado, acentua a ideia de que a condição em que se encontra é da sua inteira responsabilidade e não do trabalho sem dignidade. A presente palestra convida à reflexão sobre as contradições e dilemas que se colocam a todos  profissionais de relação de ajuda, incluindo psicólogos, em instituições sociais e comunitárias que trabalham a empregabilidade de pessoas em vulnerabilidade psicossocial e em contextos de incerteza, onde os valores da alta performance da sociedade da qual fazem parte coexistem com os valores do respeito pela dignidade e autodeterminação da pessoa, orientadores da sua intervenção.

Palavras-chave: Abordagem Centrada na Pessoa; Desempregado; Emprego apoiado; Intervenção Comunitária; Trabalho