A noção atual de Infância perpassa pela compreensão sobre as tarefas desenvolvimentais e expectativas culturais sobre a criança, sendo que no ocidente, por um longo período sua relevância e especificidade foi desprezada ou negada. A partir dos meados do século XX ampliou-se o conceito de infância e a criança passou a ser vista como um ser em desenvolvimento, tendo seus direitos amparados legalmente. Entende-se que tal noção afeta a compreensão sobre a saúde mental de crianças, que reforça estereótipos sugestivos de que crianças não apresentam problemas de saúde mental, atrapalhando ações de prevenção e promoção de saúde. Um dos indicadores negligenciados é o estresse infantil, que se manifesta diferentemente em crianças e adultos, mas pode impactar negativamente no processo de desenvolvimento e aprendizagem. Por isso, a presente conferência pretende num primeiro momento tratar sobre a noção de infância cultivada pela cultura ocidental e em seguida apresentar dados de um estudo longitudinal que considerou crianças com e sem manifestações crônicas/pontuais de estresse e procurou explorar a relação destas trajetórias com o repertório de habilidades sociais, comportamento e desempenho na escola, que são indicadores típicos de desenvolvimento na idade escolar. No geral, o foco nas trajetórias de estresse infantil, ressaltou a vulnerabilidade das crianças cronicamente estressadas, sendo este um fator de risco para o desenvolvimento e aprendizagem nos anos iniciais de escolarização.
