Falar de uma Europa geopolítica, ou seja, de uma União Europeia como um ator relevante na política mundial, utilizando os instrumentos clássicos de poder dos Estados, é um tema muito suscetível quanto à sua discussão que se tornou duradoura e mutável. Não é segredo que os principais opositores de um mundo unipolar são a Rússia e a China. Ambos desafiam a ordem internacional assente nos princípios do capitalismo, que representa a face normativa de um sistema global centrado nos EUA e no Ocidente. A contestação russa é a mais ruidosa e violenta, como demonstra o conflito no leste europeu. No entanto, o seu poder mundial, com efeitos colaterais nos outros países, é limitado por fatores como, e.g., a economia e a demografia. Já a China é o Estado com maior potencial para transformar o sistema internacional. A sua expansão consistente nos mercados globais – da Ásia à América Latina, passando pela África e pela própria Europa, ainda que de formas distintas – evidencia a sua influência. Além disso, o fato de ser a maior potência comercial em termos de bens transacionados reforça seu peso económico, embora, no setor dos serviços, os EUA e o Ocidente ainda mantenham a superioridade. Diante deste novo cenário internacional, marcado por potências contestatárias em ascensão, a União Europeia enfrenta o desafio de definir o seu posicionamento para a defesa de seus interesses estratégicos, abrangendo, e.g., as dimensões económica, política, militar e de segurança. O debate sobre qual dos sistemas – unipolar, bipolar ou multipolar – garante maior estabilidade e paz nas relações internacionais permanece em aberto. A transição para um mundo multipolar foi a visão de Josep Borrell, enquanto Vice-Presidente da Comissão Europeia até Dezembro de 2024 e alto-representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança e chefe do Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE), o corpo diplomático da União Europeia. Segundo Borrell, o desafio para a Europa é adaptar-se à nova distribuição do poder enquanto vai tentando reduzir a fragmentação política do mundo em blocos concorrentes. Josep Borrell afirmou ainda que ao longo da última década e meia o mundo foi caminhando gradualmente para o que ele define como uma “multipolaridade complexa”. Do ponto de vista económico, destaca a existência de três polos dominantes: os EUA, a China e a União Europeia. No entanto, salienta que, politicamente, a configuração global é ainda mais complexa. Discutir uma Europa geopolítica e geoeconómica é um caminho repleto de desafios. É sobre esta entroncamento intrincado que se centrará esta Aula Aberta
