Nos últimos anos, o “Manifesto Antropófago” (1928), de Oswald de Andrade, vem sendo amplamente discutido como enunciado crítico à visão eurocêntrica de literatura e arte. Tanto em português quanto nos escritos em língua inglesa, o conceito de antropofagia ganha renovada relevância, como precursor de teorias de crescente importância nas últimas décadas, e chega mesmo a ser tido como uma espécie de ‘pós-colonialismo avant la lettre’. Porém, a maioria dessas análises deixa de situar o manifesto dentro do contexto maior do movimento antropofágico, ocorrido entre 1928 e 1929, principalmente em São Paulo, mas com repercussões nacionais na cena cultural brasileira. A conferência discutirá a história do movimento, sua construção e recepção crítica, assim como seus desdobramentos na Revista de Antropofagia. A relação complexa da antropofagia com ideias europeias de primitivismo ajuda a esclarecer aspectos fundamentais para o entendimento de seus discursos anticolonialistas. A partir dessa contextualização histórica, será analisada a produção pictórica de Tarsila do Amaral e, em especial, sua obra A Negra (1923), exaltada por alguns autores como ícone antirracista e criticada por outros como apropriação cultural do subalterno por atores privilegiados. Noventa anos depois, continua a ecoar (e confundir) o enunciado antropofagista: “Só o selvagem nos salvará”.
- Convidado: Professor Rafael Cardoso, da UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Freie Universität Berlin;
- Data: 14 de Abril (quarta-feira) às 18:30;
- Conferência via Zoom: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/81803348404